domingo, 12 de junho de 2011

O Outro Lado da Porta

"Hoje em dia se tu não fala de política, maconha ou putaria, tu é emo. Eu acho que não tem graça, não tenho vontade de falar sobre uma possível plantação de maconha, sobre subir o morro pra pegar pó, eu não quero falar do trenzinho que vai uma mina no meio e o cara na frente, eu não quero saber da mina rebolando até o chão, e eu acho que não adianta nada ficar falando mal da direita quando a esquerda vai cagar tudo também, saca? Então, acho que tem que falar de amor sem ter vergonha, mesmo porque eu acho que o que a gente fala acaba sendo mais positivo para as pessoas do que tu incentivar certas coisas que todo mundo deveria entender sozinho. Eu acho que falar de amor não faz mal para ninguem!"

Tavares – O Outro Lado da Porta

Feliz dia dos Namorados!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Definição.

Talvez seja espontâneo eu escrever sobre isso. Nunca gostei muito de me aprofundar nessa época da minha vida. Eu tinha 12 anos quando tudo começou, e estava na sexta série (sétimo ano). Por um descuido na aula de educação física, deixei de ser simplesmente aquela que todos conheciam e passei a ser outra, com um apelido que prefiro me esquecer e nunca citar. Os meses passaram e mesmo com isso perturbando a minha vida, eu ignorava. O problema era a musica. Única que ouvia um tipo de musica, não ligava para aparência. Era eu.
Na época acho que esse era o problema: ser eu. Era apaixonada por um menino que me tratava bem, mas namorava. Ele sabia que eu gostava dele, e nunca me tratou diferente por isso. E tinha um menino na minha sala, que me zoava demais, mas quando queria algo, conseguia. Sempre foi esse o problema. Acabamos ficando – foi o meu primeiro beijo! – e foi um único beijo na frente da sala inteira na aula de história. Depois disso tudo piorou.
No ano seguinte, achei que as coisas iam melhorar. Tolice a minha. Considero esse o pior ano da minha vida. Entrei para um conjunto de musica, onde conheci varias pessoas novas, cada um com seu jeito e sua diferença, e isso era o bom lá: ser diferente! Mesmo assim, me chamavam de “emo”. Carinhosamente, admito. Mas na escola, eu vivi em um inferno. Minha melhor amiga estava mudando muito, musicas, aparência, estilo. Normal, todos passam por isso. Mas talvez nós não combinássemos mais, e suas novas amigas sim. Acabei sozinha, a zoada da sala, não ligava para aparência e ouvia as musicas que ninguém ouvia.
A diferente.
Não falava com meninos, tinha vergonha, me importava muito o que iam achar de mim, pensar. Fui deixada de lado por aqueles que considerava serem meus amigos. Conheci muitas pessoas novas, que me faziam bem, me aceitavam ser diferente. Mas isso não bastava, queria ser aceita por todos, queria ser igual a todos!
Era frequente eu chorar na escola – em especial na aula de história, com um professor que me ajudou mais do que eu merecia, muito obrigada! – e chegar destruída em casa. Eu corri muito atrás de pessoas que não mereciam, e apesar de tudo não me arrependo. Tomei muito no cu, falando um português bem claro. Sofri como nunca sofri em toda minha vida.
Achava na musica meu ponto de paz, como sempre achei. No conjunto me sentia bem. Escrevia letras, que hoje leio com lágrimas nos olhos. Ouvindo certas bandas, as lagrimas escorriam, mas eu me sentia bem. A vontade de desaparecer era constante. A vontade de morrer, frequente. Talvez seja exagerado dizer isso, mas quem sofreu bullying pelos seus supostos “amigos” e pela sua melhor amiga sabe bem o que é esse sentimento. Foi o pior ano, a pior época da minha vida.
Nessa época meu pai perdeu o emprego, e minha família brigava muito. Não tínhamos dinheiro. Era horrível não ter onde ficar, sofrendo na escola e em casa.
No meio do ano, saturada de tudo, encontrei uma banda que me reaproximou da suposta melhor amiga. Na época, só falávamos deles, para não perder nada, eu vivia para eles. Continuei a sofrer muito no ano seguinte, mas já havia me reaproximado da minha amiga – primeira vitória. Meses depois ouvi o primeiro “eu te amo” em anos. Confesso que chorei. Mudei meu apelido, foi uma ótima mudança.
Passei esse ano sendo zoada, sofrendo, mas fingia que não via. Quem via era meu travesseiro, quando as lagrimas fugiam, de tantas acumuladas. Não falava com meninos – ficava roxa só de um deles vir falar comigo! – e não era de muitos amigos. Conheci a banda que me reaproximou de minha amiga, e assim, me reaproximei das outras. O ano acabou, me formei. Mudei de escola.
Escola nova, sem conhecer ninguém. No primeiro dia conheci uma menina que hoje considero uma das minhas melhores amigas. Na semana seguinte conheci os meninos mais legais do mundo, e, coincidentemente, meu amor.
Com o tempo, fui me abrindo. Comecei a andar só com meninos, e descobri que essa é o melhor tipo de amizade, pois não há segredos, disputas, nem mentiras ou falsidade. Dei meu segundo beijo, mais de dois anos depois do primeiro.
O que mais me doi, é saber que isso começou a 5 anos atrás, e ver minha irmã, onde eu já estive é a pior coisa do mundo. Eu faria qualquer coisa para ajuda-la, para ela não sofrer. É a pior coisa do mundo, e ela não merece isso. Doi muito ver minha irmã nessa situação.
Estou há mais de dois anos nessa escola. Mudei muito, não me importo com o que dizem de mim, falo do que passei em 2007-2008 com lágrimas nos olhos. Passei dois anos andando só com meninos, fiz amizades incríveis. Deixei de ser qualquer uma e me tornei alguém. Me aceitam como sou, não por quem eu tento ser. Lá cada um é de seu jeito, e todos podem ser amigos assim.
Fiz muita besteira nesse tempo todo, mas aprendi com isso. Nunca fui tão feliz em outro lugar, em outra época como sou agora. Nunca usei drogas e não gosto de beber. Achei na música, escrita, literatura e em desenhos – acho que ninguém sabe, mas desenho roupas – meu ponto de paz, um ponto de escape para tudo o que eu passava na época. Nessa época, conheci meu melhor amigo, entrei em um curso técnico e decidi o que eu quero fazer da vida.
Me apaixonei de verdade pela primeira vez recentemente, e ele me faz a pessoa mais feliz do mundo. Quando pensei em me matar, desisti na hora em que pensei nele. Ele – como algumas pessoas – tem o dom de me fazer bem. Se eu gostaria de esquecer tudo o que passei? Não sei, talvez não, pois só assim tenho vontade de seguir em frente e me desafiar.
Meu nome é Camila, tenho 17 anos, namoro o meu melhor amigo e tenho os melhores amigos do mundo. Se tem uma coisa que eu não me esqueço é de tudo o que sofri nesses últimos anos, cada brincadeira tosca que faziam comigo, cada lágrima que deixei fugir. Só queria agradecer a todos que me zoaram esse tempo todo, pois só assim consegui amadurecer e me aceitar como eu sou. E, acima de tudo, queria agradecer a todos que me aceitam por ser como eu sou, não se importam com as minhas diferenças e me fazem feliz.
Nunca fui tão feliz na minha vida, como sou hoje, e sou eternamente grata por tudo o que aconteceu em minha vida. Finalmente me aceitei, finalmente sou quem quero ser, e não quem quero que seja.

Muito prazer, Cami Gregori, técnica em Meio Ambiente e futura jornalista.



“So much has changed, down memory lane”

- McFly